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A VOZ QUE CLAMA NO DESERTO

A sensação, quando nos encontramos no deserto, é de que estamos “perdidos na multidão”. Não encontramos ressonância em nossas conversas com nossos interlocutores. Sentimos muita falta de um colo, de um aconchego, mas mesmo que estejamos com pessoas, isso não chega ao nosso âmago.

É uma solidão terrível. Tristeza misturada com angústia.

Revemos nossa vida vivida, nossos atos praticados com pessoas que fizeram parte da nossa caminhada, amores que partilhamos, sensações que ficaram. É como se estivéssemos sentadas em cima de um penhasco, olhando para o vale, onde toda nossa vida refletisse em um palco. Algumas cenas nos levam a momentos de dor, outras de reconhecimento por um desejo alcançado, outras de falhas cometidas por desconhecimento ou por confiar demais em pessoas que não tinham para nos dar o que precisávamos.

Cada uma das cenas nos leva a reviver sentimentos. Esse é o aprendizado feito de erros e acertos.

Esse é o momento de maior solidão: sermos observadoras de nós mesmas. Momento de deixar aflorar cada sentimento: chorar pelos momentos que não ousamos fazer isso; sorrir por saber que fizemos por merecer momentos mágicos de amor – eles nos reabasteceram para nossa caminhada; deixar aflorar a raiva por uma injustiça ou traição e olhar se, verdadeiramente, isso foi o que aconteceu e observar e ver que foi isso que nos impulsionou a ir em frente. Isso era preciso acontecer para nos dar garra.

Ninguém pode nos dar colo, porque estamos sozinhas no deserto, embora estejamos na multidão.

É somente o nosso EU o Universo.

Outro ser humano não vai entender o que estás sentindo, portanto, nada poderá fazer por ti. É comum pessoas sofrerem de “síndrome do pânico” nesses momentos.

Nessa fase da vida, suicídios são cometidos; consultórios médicos abarrotados por pessoas buscando calmantes para seus desesperos; clínicas e hospitais psiquiátricos abarrotados. Todos procurando médicos para dar solução aos seus desesperos através de medicação.

Milhões de seres humanos tornam-se zumbis, tomando calmantes para dormir, antidepressivos para acalmar as angústias. Isso os torna dependentes definitivos de paliativos para suas dores.

Alguns, em um momento de lucidez, decidem rever o tratamento, suas vidas e buscam o caminho do entendimento de suas angústias.

Quanto tempo nós ficamos no deserto? Quando sabemos que fomos resgatados?

Não existe um divisor entre o deserto e o oásis. É um passo ou uma etapa de cada vez. Tudo é muito sutil. É como se planássemos, e depois, aos poucos, nossos pés começassem a tocar o chão e sentíssemos o gramado recém-cortado e úmido pelo orvalho da noite. Nossa vontade é deitar nele como bebês no útero materno, olhando para o céu estrelado.

“O deserto não é um lugar de punição, mas um lugar de aprendizagem, crescimento espiritual, compreensão, cura e realização”. Um lugar onde brota a fonte de energia sob forma de desespero sofrimento e dor. “A experiência no deserto foi criada para lançá-la em direção do seu destino ou para libertá-la do que a estava afastando dele.”

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