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AMIGOS ESPIRITUAIS

Rafael é um menino que nasceu com Síndrome de Willians e também portador de TDA, muito comum nos portadores dessa síndrome. Tem dificuldades de aprender a ler e escrever, mas uma incrível sensibilidade para a música, como decorar letras, acompanhar as batidas dos instrumentos e dançar com os ritmos de cada som.

Aos poucos foi despertado nele uma grande afinidade com as batidas da bateria. Isso foi verbalizado por ele quando manifestou desejo de aprender a tocar esse instrumento. Uma coisa que gostava e gosta de fazer era ir à loja de instrumentos musicais. Seus olhos brilhavam quando passava as mãos nos pratos das baterias. Seus pais, sempre atentos às suas reações, decidiram procurar a Rima, ótima escola de música em Osório. A preocupação deles, porém, era que houvesse aceitação, e que o professor tivesse ou pudesse ter afinidade com sua sensibilidade. Ele é um menino hiperativo e sua concentração é mantida por pouco tempo, portanto, precisa ter conexão com quem está interagindo para despertar sua atenção.

O professor que dava e dá aulas de bateria era o DaCostta. O primeiro contato entre os dois foi como o reencontro de almas gêmeas. Rafael passou a viver parte de seus dias aguardando o momento do reencontro com seu professor nas aulas. O aprendizado se desenvolvia rapidamente e se tornaram amigos e confidentes. Havia o momento da conversa, do lanche e da aula. Formaram um pequeno mundo entre os dois. Muitas vezes não era possível saber quem era o professor ou o aluno. O professor, acostumado a tocar para multidões como baterista em um grupo de muito sucesso se propôs a dedicar um dia da semana para ensinar meninos a realizarem seus sonhos de aprender a tocar bateria. Faz isso com muito carinho, deixando de ser o “famoso” para ser criança por um dia.

Rafael, com aproximadamente cinco meses de aula, participou de um recital a convite da Rima, tocando duas músicas. Na primeira, o professor estava presente dando apoio. Estive presente nesse dia, foi um momento inesquecível para mim. A energia e a sintonia trocada entre os dois, professor e aluno, foram sublimes. Parecia que eles tocavam juntos. Registrar em uma câmara fotográfica ou filmadora era impossível. Ia além de tudo que o ser humano não sensível pode sentir ou imaginar. Ele pode realizar seu desejo porque teve e tem apoio da família e encontrou um profissional com grande sensibilidade que soube desenvolver suas aptidões musicais.

Seu professor, por trabalhar tanto querendo ajudar todos que o rodeiam, talvez tenha esquecido de separar o ser humano do profissional. Está sempre no palco fazendo com que os que se dizem seus amigos se sintam felizes.

O que é importante para ele, o que deseja para seus momentos depois que desce do palco não é considerado por seus amigos. A solidão é imensa e corre o risco de ser engolido por ela. Não é respeitado nem conhecido como Rosinei. Todos o veem como o gordo que toca bateria para que se divirtam ou aquele que paga para ter a companhia deles depois que desce do palco, quando, na verdade, eles é que deveriam pagar para ter sua companhia.

Fazer parte de um grupo que vive para fazer shows para que os desesperados e solitários que procuram um baile para encontrar o amor, lógico que muitos também vão para dançar e se divertir com suas companheiras, é desgastante. Todos do grupo têm que estar sempre bem e sintonizados entre si, não importa o que esteja acontecendo em suas vidas particulares. Isso pode fazer com que aqueles que não têm uma boa estrutura familiar se sintam perdidos.

Quando encontra amigos verdadeiros que o admiram e respeitam pelo ser humano que é, procura, inconscientemente, magoá-los para que se afastem dele, evitando que seja menosprezado, como sempre acontece em sua vida pelo lado pessoal. Não acredita que pode ser real e verdadeiro o que está vivendo. É algo diferente de tudo que já aconteceu em sua vida. Para Rosinei também foi a descoberta de sua essência como ser humano. Aprendeu a se dar valor além do palco.

Deus é sábio e coloca no nosso caminho pessoas companheiras para facilitar nossa caminhada nesse mundo, e esses encontros acontecem de uma maneira inesperada, porém, com grande verdade. Ainda existem pessoas companheiras e amigos verdadeiros. A prova foi o período quando o Rafael teve que fazer a sua segunda intervenção cirúrgica. A amizade e atenção do Rosinei foram muito importantes, fez com que ele desejasse melhorar para voltar a viver aqueles momentos maravilhosos com seu professor e amigo.

Atualmente, faz parte do grupo de danças e é baterista da banda da APAE, com várias apresentações por todo Estado e campeão no Festival Regional de Bandas da APAE pelo litoral norte.

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